Da sua natureza
Se efectuarmos o balanço dos últimos decénios, verificamos uma situação de toda alarmante: o própio futuro do género humano.
A proliferação de armamento atómico, a manutenção de engenhos termonucleares, conflitos armados sem uma solução a curto médio prazo, a ocupação abusiva de territórios, com o pretexto de legítima defesa e, quase sempre ferida de legalidade internacional, fazem prever o pior. O nosso passado é a garantia do futuro. Mas, com este balanço quem aposta no futuro da paz mundial ? Se um conflito de grandes proporções começar, quem aposta na sobrevivência da nossa espécie ?
A História demonstra que as armas acabam sempre por ser utilizadas. Sinceramente, mesmo sendo esta a nossa natureza, não deveria ser o nosso destino.
Ao escrever estas notas veio-me à ideia a conhecida fábula do escorpião, que não resisto a contá-la:
“ ... Na margem de um grande rio africano um leão dorme. É de tarde, faz calor. Náo corre a menor aragem.
Um escorpião aproxima-se. «Levanta-te. Tenho necessidade da tua ajuda», diz ele, dando uma cotovelada ao leão, «Preciso de passar para o outro lado do rio. Aqui não há mais ninguém. Põe-me sobre as tuas costas e leva-me a nado.»
Supresa do leão: «Eu, nadar com um escorpião no dorso? Tu vais-me picar e eu morro ...» O escorpião defende habilmente a sua causa: «Nâo sejas estúpido. Se eu te pico, afogamo-nos os dois. Nada te acontecerá.»
Obstinado, o leão procura argumentos. Mas a agilidade intelectual do escorpião, aliada à lógica insuperável da sua deprecada, acaba por vencer.
«Sobe.», diz o leão.
A passo lento, o leão, desconfiado, avança na água tépida.
Começa a nadar. A meio do rio, uma dor viva paralisa-o. O duo é levado pela corrente ...
«Olha bem o que fizes-te», diz o leão, «Vamos perecer os dois» - «Eu sei», responde o escorpião, «lamento muito, mas ninguém escapa à sua natureza.» ”
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