sábado, outubro 09, 2004

Chamiços

Desta vez, não vou ter desculpa, vão-me "saltar os cachorros", baterem-me até ficar todo "negro", mas pronto, em sou assim, adoro confrontá-los.
Andava eu à procura, na Internet, de informação sobre processos de tratamento de água , quando esbarrei com um artigo de Ben Powell, que chamava a atenção para os materiais inúteis que somos tentados a comprar, o autor referia-se, a uma grande parte dos "utensílios" e produtos para piscinas, perfeitamente prescindíveis, demostrando que a sua compra não traria qualquer valor e que, só serviriam para aumentar os custos de manutenção.
Pretendendo ir um pouco mais longe do que Ben Powell, parece-me que no nosso quotidiano, compramos muitas coisas, a que resolvi designar por chamiços (restos de material sem utilidade e sem valor, de preferência combustível, que aproveitamos para acender o lume, vulgo acendalhas).
Mas, para nossa pouca sorte, somos tentados a adquirir materiais ainda piores, do ponto de vista da sua necessidade e facilidade de combustão, tendo em conta que os verdadeiros chamiços, ainda, nos são úteis para acender o lume...
O sucesso da tecnologia de ponta, deve-se, em certa medida, à tentação dos consumidores por estes artigos e à influência exercida pela publicidade.
Vejamos, tenho um gravador de vídeo, topo de gama, que dispõe de um sem número de possibilidades de programação, inserção de imagem/som, com um manual de instruções, que mais parece uma enciclopédia - que nunca li - no entanto, só uso o conhecido botão de "play". Resumindo, qualquer outro gravador, sem tanta sofisticação tecnológica, serviria para ver vídeos. Mas que tempo temos para os ver ? Já que andamos tão ocupados a ganhar dinheiro para comprar os chamiços. E os telemóveis? Que modelo de chamiço é melhor que o outro? Com câmara digital ? Mas não é para telefonar? Será dois em um ?
Bem, nesta altura, o leitor, decerto, já encontrou exemplos de chamiços melhores que os meus. Contudo, gostaria ainda de falar de livros e revistas, que muitos não lemos, nem têm para nós qualquer significado ou interesse, mas, que ocupam e roubam espaço, esse sim, útil. Vale a pena acrescentar as montanhas de catálogos de publicidade, gentilmente colocados, nas nossas caixas de correio, cheios de chamiços, sabiamente disfarçados de artigos úteis e imprescindíveis.
Quando recebemos prendas, muitas delas são chamiços, sendo o Natal, a época que nos encontramos mais ocupados a comprá-los e onde ocorre maior troca destes objectos. Quem não gosta de premiar os seus amigos com chamiços ?
Como tudo que não utilizamos, depressa chegamos à conclusão que devemos mandar os nossos chamiços - mais antigos - para reciclar, na ânsia de substituí-los, por outros de igual valor, ou seja, pelo menos tão inúteis como os anteriores. Compreende-se, assim, a razão, porque hoje a indústria de reciclagem anda tão ocupada e em verdadeira expansão, dado o volume de chamiços a tratar.
Todavia e, para terminar gostaria de vos colocar as seguintes questões: é para comprarmos chamiços que nos esfalfamos a trabalhar? Que enriquecimento pessoal, podemos nós tirar da maior parte destes artigos prescindíveis? Continuamos a tirar alguma satisfação pessoal, porque não adquirimos, ainda, plena consciência desta realidade?
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