segunda-feira, março 27, 2006

[1] Recém-nascido

Nasci, sou um menino, agora vale a verdade, vale a vida, em primeiro lugar, quero lembrar, que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, como tu menino grande, escreves-te, por tua vontade, em nosso nome, já fez tanto tempo...
Queria alertar que a pobreza e as desigualdades sociais são os factores que mais afectam a minha saúde, a dos outros meninos e meninas e que a mortalidade na nossa idade, em todo o mundo, continua, infelizmente, excessivamente elevada e, por isso, tenho medo.
Sei que uma grande multiplicidade de factores, nomeadamente, os socioeconómicos, culturais e habitacionais do papá e da mamã, no fundo, os que herdei, serão determinantes para a minha saúde, porque estão na origem de patologias várias. Reparem, herdei, não escolhi, então, apenas vos peço, do fundo do meu frágil coração, que me prestem os melhores cuidados, não me desprezem, não me abandonem, nem me descriminem.
Sei ainda, que a família poderá ser um espaço importante para o meu desenvolvimento, mas, também, para me oprimirem e violentarem. Acredito porque sou pequeno, digno, e pessoa de bem, que os meus meninos grandes, aqueles que são do meu sangue, que chamo: «meus meninos» e com os quais, em comunhão, pretendo tecer, no futuro próximo, as maiores venturas de vida, me irão tratar bem. Como pessoas de bem que somos, acredito, que serão importantes para o meu desenvolvimento e educação, ficando, desde já, profundamente reconhecido.
Quando à pouco, apelava para os melhores cuidados paternais, familiares e sociais, que me deviam prestar, estava a pensar num menino grande chamado Bowlby, porque segundo ele, entendido nestas matérias, as necessidades são muito maiores: «A satisfação das necessidades de vinculação, passa por contactos efectuosos com a mãe e ou outros prestadores de cuidados, pelos contactos corporais, pelas interacções através do sorriso e do olhar, pelos gestos de ternura e afecto, pelas comunicações sensoriais no momento de cuidados, nomeadamente de amamentação, pela segurança encontrada nos braços do adulto, pela sintonia dos ritmos e dos afectos.»
Sabem, queria também aproveitar esta oportunidade, para prestar uma justa homenagem aos outros meninos e meninas grandes que se interessam e investigam estas coisas, que eu designo por verdades e vida, porque são grandes e têm um coração enorme, todo ele dedicado às pessoas, principalmente, aos seres frágeis como eu, e que, por isso, bem o merecem.
Desta forma, termino, com umas breves palavras, que eles próprios escreveram:
«A necessidade de contacto e depedência da criança, sobretudo no início da vida, é uma realidade que se inscreve no passado biológico da espécie, sendo a partir desta necessidade biológica e primária de dependência, contacto, protecção e afecto que se elaboram os laços de vinculação, a competência social e o sentimento de segurança, fundamentais na estruturação psíquica da criança e do desenvolvimento e saúde futuros.»

[1] Recém-nascido ideia original do autor, baseada em textos da Profª Drª Natália Ramos.
Alojamento Web Grátis