Das diferentes realidades
O que eu digo num determinado momento é apenas uma faceta de uma imensa complexidade cheia de contradições. Tantas vezes a minha expressão é semelhante às cores da paisagem que se modifica, por efeito da luz ao longo do dia.
Mais, existe ainda uma tal diferença entre o que digo e o que o meu interlocutor entende, dependendo de tantos factores, que não sei – como poderei eu saber? - O que ele compreendeu ou apreendeu.
O tempo que decorreu entre a última vez que estabelecemos comunicação e agora, este passado feito presente, tornou-se dissemelhante, porque, entre nós muito se modificou.
Assim, a verdadeira existência da vida será este movimento esta tentativa de se reconhecer o outro, fundamentalmente distinto, com as suas próprias crenças e valores, não fundeado no tempo.
Saberei, o que entendeu, quiçá, tardiamente, com gáudio, mágoa, ou talvez espanto, porque os pensamentos as imagens secretas do outro escapam-me, da mesma forma como lhe escapa, como se fossem de areia, os meus.
Mesmo com os quais partilho tudo, os mais íntimos, o mistério permanece insolúvel, ficando nós sem a maior fatia do bolo, não de massa de glicose, mas da essência da comunicação.
Decerto que me esforço para diminuir e aceitar esta diferença, que existe entre as palavras e a minha experiência de vida, aliás, sinto-me afortunado por reconhecer, no fundo, a incompletude da nossa comunicação.