quarta-feira, outubro 20, 2004

Noddy

Noddy


Nestas coisas de desenhos animados, confesso que já estou um pouco desactualizado e também desinteressado. A razão é porque não fiquei com muito boa impressão dos últimos que tive oportunidade de ver.
Não me estou a referir aos desenhos animados produzidos para cinema, nomeadamente, alguns filmes da Walt Disney, que mantêm ainda uma qualidade apreciável, mas às diversas séries de televisão com qualidade duvidosa, cheios de guerras no espaço, naves bélicas - como se não bastasse a deste mísero planeta - violência gratuita, formas estilizadas de animais homens, super-homens, super-mulheres e afins.
Casualmente e, para espanto meu, dou por mim a ver um desenho animado chamado Noddy, fiquei simplesmente encantado, ultrapassava tudo o que eu achava interessante para uma criança apreciar: os bonecos, os cenários, o colorido, as músicas, a história.
Corri, desesperadamente, para a Internet, na esperança de perceber o que era o Noddy e encontrei dois artigos curiosos:
O primeiro, com o título "Noddy":
«Há muito que não apanhava este desenho animado. Mas ontem, assim que ouviu o genérico do Noddy, ficou vidrada.
Para espanto meu, não desistiu depois da música. Viu tudo até ao fim! Até ia fazendo uns comentários: ooohhh quando o Noddy saía de cena e tátá! quando o Noddy reaparecia.»
[1]
O último, mas não o menos interessante, com o título "Noddy não devia viver sozinho":
«Da última vez que fui a Lisboa trouxe um livro do Noddy para a Xica que, depressa, se tornou num dos seus preferidos. Chama-se "Noddy, tu és capaz". Li-o algumas vezes, sem que acontecesse nada de especial, até que outro dia ela me fez esta pergunta, para a qual não tive resposta, "...Onde está a mãe do Noddy? Porque é que ele vive sozinho?".
Os putos não são maravilhosos?»
[2]
Comentário ao artigo:
«O meu filho já perguntou o mesmo. Disse-lhe que na cidade dos brinquedos são todos amigos, como na escola, não estão lá as mães e os pais. Adoro quando ele anda pela casa a cantar "hoje é dia de alegria". Também gosto do Noddy.»
Primeiro gostaria de premiar a inteligência dos putos e depois fazer votos, para que a mãe do Noddy seja tão humana como o filho, para que eu e os miúdos nos mantenhamos cativados.
Espero, assim, que a produção do programa não se lembre de produzir, para a figura da mãe do Noddy, mais uma fantasia do género extra terrestre, estilizada, a navegar numa nave, cheia de artilharia bélica vinda de outro mundo... (como se já não bastasse as naves bélicas deste mundo bem real!)

Finalmente, ainda bem que na cidade dos brinquedos, são todos amigos, mesmo sem as mães e os pais, embora, a criança considere, e com toda a sapiência deste mundo, que o Noddy não deve viver sozinho! Plenamente de acordo, estou simplesmente encantado!

[1]"Noddy"- Filhos - Diário de uma mãe
[2]"Noddy não devia viver sozinho" Sushileblon

sábado, outubro 09, 2004

Chamiços

Desta vez, não vou ter desculpa, vão-me "saltar os cachorros", baterem-me até ficar todo "negro", mas pronto, em sou assim, adoro confrontá-los.
Andava eu à procura, na Internet, de informação sobre processos de tratamento de água , quando esbarrei com um artigo de Ben Powell, que chamava a atenção para os materiais inúteis que somos tentados a comprar, o autor referia-se, a uma grande parte dos "utensílios" e produtos para piscinas, perfeitamente prescindíveis, demostrando que a sua compra não traria qualquer valor e que, só serviriam para aumentar os custos de manutenção.
Pretendendo ir um pouco mais longe do que Ben Powell, parece-me que no nosso quotidiano, compramos muitas coisas, a que resolvi designar por chamiços (restos de material sem utilidade e sem valor, de preferência combustível, que aproveitamos para acender o lume, vulgo acendalhas).
Mas, para nossa pouca sorte, somos tentados a adquirir materiais ainda piores, do ponto de vista da sua necessidade e facilidade de combustão, tendo em conta que os verdadeiros chamiços, ainda, nos são úteis para acender o lume...
O sucesso da tecnologia de ponta, deve-se, em certa medida, à tentação dos consumidores por estes artigos e à influência exercida pela publicidade.
Vejamos, tenho um gravador de vídeo, topo de gama, que dispõe de um sem número de possibilidades de programação, inserção de imagem/som, com um manual de instruções, que mais parece uma enciclopédia - que nunca li - no entanto, só uso o conhecido botão de "play". Resumindo, qualquer outro gravador, sem tanta sofisticação tecnológica, serviria para ver vídeos. Mas que tempo temos para os ver ? Já que andamos tão ocupados a ganhar dinheiro para comprar os chamiços. E os telemóveis? Que modelo de chamiço é melhor que o outro? Com câmara digital ? Mas não é para telefonar? Será dois em um ?
Bem, nesta altura, o leitor, decerto, já encontrou exemplos de chamiços melhores que os meus. Contudo, gostaria ainda de falar de livros e revistas, que muitos não lemos, nem têm para nós qualquer significado ou interesse, mas, que ocupam e roubam espaço, esse sim, útil. Vale a pena acrescentar as montanhas de catálogos de publicidade, gentilmente colocados, nas nossas caixas de correio, cheios de chamiços, sabiamente disfarçados de artigos úteis e imprescindíveis.
Quando recebemos prendas, muitas delas são chamiços, sendo o Natal, a época que nos encontramos mais ocupados a comprá-los e onde ocorre maior troca destes objectos. Quem não gosta de premiar os seus amigos com chamiços ?
Como tudo que não utilizamos, depressa chegamos à conclusão que devemos mandar os nossos chamiços - mais antigos - para reciclar, na ânsia de substituí-los, por outros de igual valor, ou seja, pelo menos tão inúteis como os anteriores. Compreende-se, assim, a razão, porque hoje a indústria de reciclagem anda tão ocupada e em verdadeira expansão, dado o volume de chamiços a tratar.
Todavia e, para terminar gostaria de vos colocar as seguintes questões: é para comprarmos chamiços que nos esfalfamos a trabalhar? Que enriquecimento pessoal, podemos nós tirar da maior parte destes artigos prescindíveis? Continuamos a tirar alguma satisfação pessoal, porque não adquirimos, ainda, plena consciência desta realidade?