segunda-feira, abril 17, 2006

O que sentimos I

Transpor a responsabilidade do que sentimos, é sem dúvida a nossa posição relacional mais frequente.
Se eu sinto alguma coisa é devido a alguém ou a um acontecimento, numa lógica emocional incorrecta, é o outro ou a situação que é responsável pelo que sinto.
Esta mitologia relacional é das mais persistentes, a omnipotência que atribuímos ao outro leva-nos a transpor a responsabilidade do que sentimos, como se fossemos irresponsáveis ou desprotegidos.
«Estou verdadeiramente perdido, em pânico, em sofrimento... portanto não sou eu que devo fazer alguma coisa por mim.»
Quando transpomos a responsabilidade, o visado é geralmente: ou a pessoa amada, um parente ou alguém muito próximo. A este ser decepcionante que frustou as minhas expectativas, vou cobrar-lhe todo o meu ressentimento, acusá-lo de tudo o que me acontece de bom, mas principalmente do mau, dos meu êxitos e fracassos, dos meus risos e medos.
A estratégia relacional fundada na convicção de que o outro é responsável pelo que sinto, poderá levar à impotência, à estagnação...
Somos capazes de encontra infinitas combinações para não nos sentirmos responsáveis por aquilo que nos acontece, para evocar sempre uma causa exterior a nós próprios, com muito mais facilidade do que um mágico tira coelhos da cartóla.
A transposição da responsabilidade é também a fonte das melhores justificações e desculpas em relação às experiências da infância.
De facto, até poderá existir algum condicionamento criado pela dependência emocional e psíquica, enquanto criança, mas não deixa de ser supreendente a maneira como mantemos e persistimos nesse condicionamento.