terça-feira, junho 06, 2006

A roda-dos-desejos

«O meu marido quer dar ao nosso filho, que vai nascer, o nome que o meu pai me teria dado se eu tivesse sido um rapaz. Ele quer agradar-me, agradando ao meu pai, estou tão confusa, que, já não sei qual o nome que quero realmente dar ao meu filho. Vou agradar ao meu marido deixando-o agradar-me, para assim agradar ao meu pai?»
Esta roda-dos-desejos, mas mais propriamente roda-de-apropriação, permite apropiar-me dos desejos do outro, transformando-os em pedidos, que me encarregarei de satisfazer.
Apropriando-me do desejo do outro, evito ouvir e principalmente respeitar o meu próprio desejo, vivendo ao limite, por procuração, ou seja, por interpostas pessoas, sejam: os pais; o conjugue; os amigos; os filhos...
Pela apropriação, faço sempre meu o olhar do outro, deixo-me definir pelo outro, pelos seus valores, os seus medos, as suas necessidades, as suas crenças, como se me tornasse naquilo que o outro vê em mim, sem me conseguir diferenciar, sem me distinguir das pessoas, o que verdadeiramente me pertence, as reacções que lhes pertencem.
Tendo consciência, que as relações interpessoais implicam, quase sempre, alguma projecção e apropriação, e é assim, construída nesta troca de subjectividades, reformulo a necessidade de quanto melhor estivermos separados, diferenciados, melhor existimos nesta nossa ventura de vida, tornando-nos melhores companheiros para nós próprios e para os outros.