Na minha opinião e de alguns especialistas, (com excepção para a maioria dos políticos) o momento difícil que os países atravessam, em termos económicos, não é apenas uma recessão mas, uma mudança com carácter mais profundo.
«O que está a suceder não é tanto uma recessão mas uma reestruturação de toda a base técnico-económica da sociedade. É como um tremor de terra que traz à superfície um novo terreno.» (Alvin Toffler)
De facto, para crescer uma média de 3% ao ano, uma sociedade tem de melhorar a eficiência, talvez uns 5%, para continuar a competir no sistema global.
Melhorar a eficiência, significa ter de desaparecer mais postos de trabalho, o “downsizing” não é o único fenómeno, mas a tentação pela eficiência é muito grande e acaba por destruir as pessoas que supostamente pretende promover.
«Banco da Irlanda dispensa 2100 – O Banco da Irlanda anunciou no dia 22 de Março passado, a supressão de 2100 empregos, 12% do total de trabalhadores, com o objectivo de reduzir custos. Com esta operação, o banco prevê poupar 120 milhões de euros em quatro anos para aumentar a “competitividade” e centrar-se “nas oportunidades de crescimento”.»(Fonte: DN –Economia e Negócios, 23/03/05)
«Esta alteração à escala mundial, mais do que revelar uma crise conjuntural, traduz uma reestruturação global do sistema económico, com vastíssimos efeitos sociais.» (H.Carmo, Intervenção Social com Grupos, 2000:39)
A sociedade não pode rejeitar, num dado momento, as pessoas menos produtivas da mesma forma que rejeita os produtos menos lucrativos (cerca de 80%), porque verdadeiramente, não sabe o que fazer com elas, a não ser gerar novas necessidades de educação e formação, mantendo-as na expectativa.
Ora Portugal é um dos países mais pobres da Europa, juntamente com a Irlanda. Se o preço a pagar pela eficiência nacional, for ainda mais pobreza relativa, para mais pessoas, sem ao menos se vislumbrar outra coisa do que apenas esperança, então deixaremos a breve trecho de ser um país onde é possível acreditar e com interesse em descobrir – como no anúncio: “Venha descobrir Portugal” –.
A par de bonitas paisagens, servindo como pano de fundo, viverá um povo ainda mais fragilizado, empobrecido, com fortes tensões internas e assimetrias, que nos envergonhará se formos “descobertos” em conjunto com toda a nossa penúria social.