segunda-feira, março 28, 2005

Um mundo assimétrico




Na minha opinião e de alguns especialistas, (com excepção para a maioria dos políticos) o momento difícil que os países atravessam, em termos económicos, não é apenas uma recessão mas, uma mudança com carácter mais profundo.

«O que está a suceder não é tanto uma recessão mas uma reestruturação de toda a base técnico-económica da sociedade. É como um tremor de terra que traz à superfície um novo terreno.» (Alvin Toffler)

De facto, para crescer uma média de 3% ao ano, uma sociedade tem de melhorar a eficiência, talvez uns 5%, para continuar a competir no sistema global.

Melhorar a eficiência, significa ter de desaparecer mais postos de trabalho, o “downsizing” não é o único fenómeno, mas a tentação pela eficiência é muito grande e acaba por destruir as pessoas que supostamente pretende promover.

«Banco da Irlanda dispensa 2100 – O Banco da Irlanda anunciou no dia 22 de Março passado, a supressão de 2100 empregos, 12% do total de trabalhadores, com o objectivo de reduzir custos. Com esta operação, o banco prevê poupar 120 milhões de euros em quatro anos para aumentar a “competitividade” e centrar-se “nas oportunidades de crescimento”.»(Fonte: DN –Economia e Negócios, 23/03/05)

«Esta alteração à escala mundial, mais do que revelar uma crise conjuntural, traduz uma reestruturação global do sistema económico, com vastíssimos efeitos sociais.» (H.Carmo, Intervenção Social com Grupos, 2000:39)

A sociedade não pode rejeitar, num dado momento, as pessoas menos produtivas da mesma forma que rejeita os produtos menos lucrativos (cerca de 80%), porque verdadeiramente, não sabe o que fazer com elas, a não ser gerar novas necessidades de educação e formação, mantendo-as na expectativa.

Ora Portugal é um dos países mais pobres da Europa, juntamente com a Irlanda. Se o preço a pagar pela eficiência nacional, for ainda mais pobreza relativa, para mais pessoas, sem ao menos se vislumbrar outra coisa do que apenas esperança, então deixaremos a breve trecho de ser um país onde é possível acreditar e com interesse em descobrir – como no anúncio: “Venha descobrir Portugal” –.

A par de bonitas paisagens, servindo como pano de fundo, viverá um povo ainda mais fragilizado, empobrecido, com fortes tensões internas e assimetrias, que nos envergonhará se formos “descobertos” em conjunto com toda a nossa penúria social.

quarta-feira, março 23, 2005

Prímula



Prímula, designação que tem sido usada em referência a plantas da família das Primuláceas (género Primula), a que pertencem as primaveras.
Alegrai-vos é Primavera, sem mais, vem-me sempre à memória o poema de David Mourão Ferreira, viver, viver e sem ti. Que importa que o coração diga que sim ou que não se continua a viver...

Primavera

Todo o amor que nos
prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver

Todo o amor que nos
prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia

David Mourão Ferreira


quinta-feira, março 17, 2005

O seu a seu dono




Poderia aqui falar de feedback, comentários e blogs, mas não o vou fazer por três razões elementares:
Primeira razão, porque embora partilhe o mesmo sentimento, existe uma pessoa que o exprime no monólogo melhor do que eu;
Segunda, porque não esperando nada, os seus escritos sempre me mereceram admiração e para mim é urgente, comunicar-lhe, dar-lhe feedback, para que possamos continuar a ter os seus textos;
Por último, quero agradecer o link do Mosaico de Cores no seu blog.

terça-feira, março 15, 2005

Planear uma arte difícil



Planear é uma arte difícil!
Tendo em conta os avanços da tecnologia, (estou a pensar nos imensos programas de planeamento), parece à partida uma tarefa fácil.
Por muito que nos custe e quer queiramos ou não, as novas tecnologias influenciam a mudança, mas não geram necessariamente a melhoria dos comportamentos humanos e planear, exige capacidade e envolvimento de pessoas e não somente um programa de planeamento, daí o paradoxo. Portanto, continuo a afirmar que planear é uma arte difícil.
Planear pode ser definido como a capacidade demonstrada por aqueles que avaliam objectivamente os principais desenvolvimentos de uma situação num quadro de diferentes perspectivas. Seleccionam uma abordagem viável de uma série de alternativas. Definem, de forma realista, projectos, contingências e os recursos correspondentes e estabelecem medidas adequadas aos resultados a atingir.
De acordo coma minha experiência, muito poucos são os projectos, em que existe um planeamento efectivo e em que os colaboradores conhecem razoavelmente o seu "papel", no entanto, o planeamento é uma das actividades vitais para qualquer empresa, porque só assim é possível antecipar as necessidades e identificar os problemas, mas, tantas vezes, o plano é relegado para segundo "plano".
Para que o planeamento seja eficaz deve obedecer a um conjunto de regras: ser alargado, colar a estratégia às tácticas que a suportam, formalizá-lo e, já agora, não esquecer as pessoas, ou seja, mobilizar todos os que forem afectados e explicar, explicar, explicar, como é que cada colaborador se encaixa no plano.